Sabe aquelas coisas que a gente vive por acaso, mas se orgulha muito de ter tido como experiência? Eu sinto isso quando lembro que fui convidada a ser treinadora de novos funcionários na Disney… foi um privilégio e me orgulho muito de ter passado por isso.
Era meu segundo programa de trabalho com a empresa, desta vez com uma duração mais longa do que o ICP. Eu trabalhava no Columbia Harbour House, aquele restaurante que fica em frente a Haunted Mansion, sabe? Sou turismóloga e hoteleira de formação, e estar na área de alimentos e bebidas podendo acompanhar a rotina dentro da gastronomia era interessante, por mais que eu odiasse o chapéu de vovozinha que vinha com aquela costume, que é como chamamos os uniformes na Disney.
Aliás, eu demorei a “pegar gosto” pelo Columbia, viu? É um restaurante escuro, uma roupa cheia de frescuras… a gente tinha que usar meia fina, não podia ser outra. Era uma saia pesada, com avental, camisa, a gola da camisa e o chapéu de velhota. Se naquela época eu pudesse pegar a costume dos meninos, juro que eu pegaria! Hoje é normal, especialmente depois que a Disney passou a considerar a chave da INCLUSÃO, mas em 2006 não era permitido.
Voltando ao tema do post e como me tornei treinadora, num belo dia eu estava ajudando uns meninos novos a estocarem produtos na geladeira. Ao notar que eles estavam fazendo errado, não me aguentei e fui explicar como deveria ser e porquê. Bem na hora, a General Manager daquela área estava passando, e me abordou, perguntando: você gostaria de ser treinadora? Não sei se já haviam me observado ou se foi apenas uma feliz coincidência, mas é claro que eu respondi que sim.
Dias depois, eu estava fazendo o treinamento para ser treinadora, e tudo era muuuuuito legal! Eu estava sendo preparada para ser professora na Disney, e isso era surreal. Foi ali que descobri o quanto eu gostava de ensinar, e foi ali que desenvolvi um certo senso didático que me acompanha até hoje.
A Disney tem um sistema de treinamento que eu acho incrível: eles vão do macro para o micro. Primeiro o Cast Member aprende a filosofia da empresa no Traditions, que é o primeiro treinamento para todos, independente do trabalho a ser feito ou da posição a ser ocupada. Depois do Traditions ele conhece o parque onde vai atuar e qual o conceito daquele lugar. Após conhecer o parque, ele passa para as aulas específicas de sua área, como alimentos e bebidas, vendas, atrações, entretenimento, etc. Até aqui, tudo teoria.
Uma vez que os treinamentos teóricos tenham sido concluídos, os novos Cast Members passam, finalmente, para seus locais de trabalho em treinamentos práticos, já usando a costume, já dentro do restaurante, atração, loja, etc.
Era nessa hora que eu entrava em ação! Eu recepcionava o novato logo na entrada do túnel, fazia um tour com ele passando pela cafeteria, transporte, salas de descanso, etc. e o levava até o Columbia, onde ele passava em torno de uma semana comigo aprendendo tudo o que seria preciso para atuar.
A parte mais legal é que eu tinha uma lista para concluir dentro de um horário determinado, mas quem escolhia como seria era eu. Desde que eu cumprisse as atividades do dia, eu poderia estabelecer o meu próprio ritmo, e essa liberdade foi me conquistando. Preciso dizer que a essa altura eu já amava o Columbia de paixão?
A gente podia experimentar todos os pratos do restaurante, pois conhecer a comida vendida ali era parte do treinamento. A gente podia ficar na área externa interagindo com os visitantes, dentro das limitações da Liberty Square, onde o Columbia está localizado. A gente podia contar histórias, fazer magical moments, a gente podia só observar e depois colocava a mão na massa. A ideia era que o trainee aprendesse além da função braçal, que ele absorvesse o espírito Disney de promover experiências incríveis dentro do tema local. E cá entre nós, o tema do Columbia não era dos mais cheios de fantasia… era cada coisa que a gente inventava!
Ao final do treinamento os Cast Members passavam por uma provinha, e se aprovados já podiam trabalhar sem supervisão. Ao final do treinamento eu ficava triste, pois sabia que voltaria para as atividades normais do restaurante até que me enviassem novos trainees. Fiquei por um bom período só como treinadora! Mas tudo o que é bom dura pouco, e quando me dei conta, estava no final do meu programa.
De todas as coisas incríveis que essa experiência me trouxe, me descobrir professora foi a melhor delas. Voltando ao Brasil eu pude dar aulas no Senac, passei a treinar os guias da operadora na qual trabalhava e, anos depois, abri minha empresa de treinamento. Sou muito, muito grata!
Até hoje quando vou ao Magic Kingdom faço questão de parar no Columbia e cumprimentar quem ainda estiver por lá: a Noemi, que está nessa foto, foi a minha treinadora, e desde então temos nos encontrado todos os anos.
Na foto, inclusive, você vê pessoas do Japão, México, Reino Unido, Brasil e Colômbia. Era uma mistura deliciosa de gente falando os mais diversos sotaques! Cada um de nós trazia sua bagagem cultural, que se misturava enquanto juntos fazíamos a magia acontecer.
Para esse capítulo da minha história como Cast Member, ficou faltando eu contar a saga do meu Pin de Treinadora, um broche do Grilo Falante que só os treinadores tem e que não se compra em nenhuma loja. Eu não recebi o meu… o programa acabou antes que eu pudesse recebê-lo e fiquei muito, muito triste. Não se preocupe, tive um final feliz! Aliás, tive o magical moment mais lindo da vida, mas conto em outro post.
Se você já foi Cast Member e quer compartilhar sua história comigo, comenta aqui embaixo!