Guia em Orlando pode consumir bebidas alcoólicas?

Se você me perguntasse isso há uns 10 anos, eu responderia prontamente que NÃO, JAMAIS, NUNCA, ONDE JÁ SE VIU? Mas hoje, com mais experiência e maturidade, prefiro te responder com um bom DEPENDE.

Na minha época de coordenação de guias, a regra da empresa era que os guias não poderiam beber e ponto. Advinha só o que acontecia escondido? Eles não só bebiam, como ainda pediam aos passageiros adultos que comprassem bebida para eles no Walmart. Sem falar nas festinhas secretas nos quartos – não era uma regra, mas as exceções faziam um certo estrago. Como tudo na vida, o que a gente restringe demais tende a ser feito de qualquer forma, com ou sem o nosso consentimento.

A justificativa para a proibição era:

  1. Você está trabalhando, e no trabalho não se bebe, simples assim;
  2. Você está responsável pela segurança de outras pessoas, e por isso precisa estar 100% consciente;
  3. É desagradável atender aos passageiros ou mesmo tratar com fornecedores com hálito de quem bebeu;
  4. Em tempos de mídias sociais e notícias que se espalham rapidamente e sem moderação, um guia flagrado consumindo álcool pode representar um enorme risco à credibilidade da empresa.

 

Esses pontos todos continuam sendo super válidos, e eu continuo concordando com eles, especialmente agora que sou mãe e me imagino do outro lado. CONTUDO…

Precisamos levar em consideração que um guia de Orlando não tem folga, e isso é extremamente desgastante. Numa situação normal no Brasil, em que se tem uma rotina de trabalho, a pessoa tem hora pra começar e terminar – uma vez terminado o horário de trabalho, ela é livre para fazer o que bem entender com seu tempo de lazer, certo? Pois é.

Em Orlando não temos hora pra acabar. Na verdade, começamos no aeroporto ao embarcarmos no primeiro dia e só terminamos quando desembarcamos de volta, dias depois. São longas horas caminhando pelos parques, e muitas outras horas extras resolvendo questões das mais diversas no hotel. Entrar na piscina pra relaxar e descansar as pernas? Praticamente impossível! Perdi a conta de quantas temporadas eu tentei e não consegui.

Imagine que o cara trabalha 15 dias sem parar, sem folga, exposto a condições físicas exaustivas e lidando com toda a bagagem emocional que vem acompanhando cada passageiro… por mais paixão e responsabilidade que esse guia tenha, ele vai precisar de um momento de relax, qualquer pessoa nessas condições precisaria.

Dito isso, o que eu penso HOJE é que podemos chegar no meio do caminho. Se eu estivesse coordenando uma equipe de guias atualmente, certamente buscaria proporcionar intervalos – pequenos, é verdade, mas ainda assim, momentos dedicados exclusivamente ao bem-estar de cada profissional.

Além disso, faria da coordenação (um quarto do hotel destinado ao encontro do time e resolução de questões operacionais) um ambiente divertido e agradável no qual meus guias pudessem renovar as energias, e neste caso, um frigobar abastecido com alguns bons drinks para serem consumidos ali, com moderação e sem exposição. Sempre haveria comida gostosa, uma cama livre para quem precisasse cochilar e até um banheiro preparado com sais de banho, escalda pés e outros produtinhos para quem quisesse usar. Dependendo do tamanho da equipe, daria até pra gente criar uma escala e permitir alguns intervalos… por exemplo: numa equipe com 3 guias no shopping, dois acompanham o grupo e um fica liberado para um almoço em algum restaurante gostoso com direito a soneca no hotel depois.

Entende como dá pra flexibilizar? É claro que tudo precisa ser analisado conforme o tamanho da equipe, da estrutura da empresa, do perfil do grupo… são tantas variáveis que a palavra ideal aqui é realmente DEPENDE. Mas podendo ser feito, por que não? Um guia feliz e descansado tem muito mais energia para atender ao grupo e se relaciona muito melhor com as pessoas em geral. Por que não criar momentos mágicos para os guias também?

Com tudo isso em mente, penso que o consumo de bebidas alcoólicas segue restrito seguindo a linha da Disney do palco e bastidor: enquanto se estiver performando em palco, ou seja, com seu grupo realizando as atividades do programa, a tolerância é zero. Fora dali, num ambiente de bastidor seguro e sem risco de exposição, ok! Em festas com os passageiros? Jamais! Em ocasiões isoladas com a coordenação blindando o ambiente, ok.

Mas e se um dos guias exagerar? Se no processo seletivo a empresa conduzir a questão de maneira transparente, dando as regras do jogo e explicando as consequências, acho pouco provável que isso aconteça. Contratar um guia envolve mais do que ler um currículo e fazer uma entrevista em inglês, e promover eventos com a equipe antes do embarque também é uma forma de “ler” os profissionais escolhidos – a gente sempre saca quem pode dar trabalho, e aí ainda dá tempo de repensar a contratação. E se você que está lendo é o guia, e não a pessoa que contrata… bom senso, sempre.

Quero ressaltar que aqui estou expressando a MINHA opinião e a forma como EU conduziria as coisas na MINHA empresa hoje, ok? Não existem verdades absolutas e cada agência tem a liberdade de determinar como quer seguir nessa questão. = )

E você, o que pensa disso? Comenta aqui pra gente conversar sobre esse assunto!

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