Se você me perguntasse isso há uns 10 anos, eu responderia prontamente que NÃO, JAMAIS, NUNCA, ONDE JÁ SE VIU? Mas hoje, com mais experiência e maturidade, prefiro te responder com um bom DEPENDE.
Na minha época de coordenação de guias, a regra da empresa era que os guias não poderiam beber e ponto. Advinha só o que acontecia escondido? Eles não só bebiam, como ainda pediam aos passageiros adultos que comprassem bebida para eles no Walmart. Sem falar nas festinhas secretas nos quartos – não era uma regra, mas as exceções faziam um certo estrago. Como tudo na vida, o que a gente restringe demais tende a ser feito de qualquer forma, com ou sem o nosso consentimento.
A justificativa para a proibição era:
- Você está trabalhando, e no trabalho não se bebe, simples assim;
- Você está responsável pela segurança de outras pessoas, e por isso precisa estar 100% consciente;
- É desagradável atender aos passageiros ou mesmo tratar com fornecedores com hálito de quem bebeu;
- Em tempos de mídias sociais e notícias que se espalham rapidamente e sem moderação, um guia flagrado consumindo álcool pode representar um enorme risco à credibilidade da empresa.
Esses pontos todos continuam sendo super válidos, e eu continuo concordando com eles, especialmente agora que sou mãe e me imagino do outro lado. CONTUDO…
Precisamos levar em consideração que um guia de Orlando não tem folga, e isso é extremamente desgastante. Numa situação normal no Brasil, em que se tem uma rotina de trabalho, a pessoa tem hora pra começar e terminar – uma vez terminado o horário de trabalho, ela é livre para fazer o que bem entender com seu tempo de lazer, certo? Pois é.
Em Orlando não temos hora pra acabar. Na verdade, começamos no aeroporto ao embarcarmos no primeiro dia e só terminamos quando desembarcamos de volta, dias depois. São longas horas caminhando pelos parques, e muitas outras horas extras resolvendo questões das mais diversas no hotel. Entrar na piscina pra relaxar e descansar as pernas? Praticamente impossível! Perdi a conta de quantas temporadas eu tentei e não consegui.
Imagine que o cara trabalha 15 dias sem parar, sem folga, exposto a condições físicas exaustivas e lidando com toda a bagagem emocional que vem acompanhando cada passageiro… por mais paixão e responsabilidade que esse guia tenha, ele vai precisar de um momento de relax, qualquer pessoa nessas condições precisaria.
Dito isso, o que eu penso HOJE é que podemos chegar no meio do caminho. Se eu estivesse coordenando uma equipe de guias atualmente, certamente buscaria proporcionar intervalos – pequenos, é verdade, mas ainda assim, momentos dedicados exclusivamente ao bem-estar de cada profissional.
Além disso, faria da coordenação (um quarto do hotel destinado ao encontro do time e resolução de questões operacionais) um ambiente divertido e agradável no qual meus guias pudessem renovar as energias, e neste caso, um frigobar abastecido com alguns bons drinks para serem consumidos ali, com moderação e sem exposição. Sempre haveria comida gostosa, uma cama livre para quem precisasse cochilar e até um banheiro preparado com sais de banho, escalda pés e outros produtinhos para quem quisesse usar. Dependendo do tamanho da equipe, daria até pra gente criar uma escala e permitir alguns intervalos… por exemplo: numa equipe com 3 guias no shopping, dois acompanham o grupo e um fica liberado para um almoço em algum restaurante gostoso com direito a soneca no hotel depois.
Entende como dá pra flexibilizar? É claro que tudo precisa ser analisado conforme o tamanho da equipe, da estrutura da empresa, do perfil do grupo… são tantas variáveis que a palavra ideal aqui é realmente DEPENDE. Mas podendo ser feito, por que não? Um guia feliz e descansado tem muito mais energia para atender ao grupo e se relaciona muito melhor com as pessoas em geral. Por que não criar momentos mágicos para os guias também?
Com tudo isso em mente, penso que o consumo de bebidas alcoólicas segue restrito seguindo a linha da Disney do palco e bastidor: enquanto se estiver performando em palco, ou seja, com seu grupo realizando as atividades do programa, a tolerância é zero. Fora dali, num ambiente de bastidor seguro e sem risco de exposição, ok! Em festas com os passageiros? Jamais! Em ocasiões isoladas com a coordenação blindando o ambiente, ok.
Mas e se um dos guias exagerar? Se no processo seletivo a empresa conduzir a questão de maneira transparente, dando as regras do jogo e explicando as consequências, acho pouco provável que isso aconteça. Contratar um guia envolve mais do que ler um currículo e fazer uma entrevista em inglês, e promover eventos com a equipe antes do embarque também é uma forma de “ler” os profissionais escolhidos – a gente sempre saca quem pode dar trabalho, e aí ainda dá tempo de repensar a contratação. E se você que está lendo é o guia, e não a pessoa que contrata… bom senso, sempre.
Quero ressaltar que aqui estou expressando a MINHA opinião e a forma como EU conduziria as coisas na MINHA empresa hoje, ok? Não existem verdades absolutas e cada agência tem a liberdade de determinar como quer seguir nessa questão. = )
E você, o que pensa disso? Comenta aqui pra gente conversar sobre esse assunto!