Trabalhando na Disney – Custodial ICP 2003 I 2004

Depois da minha primeira viagem pra Disney em 2000, eu já sabia que precisava estar lá de novo, e desde então, tudo o que eu fazia era tentar amenizar a DPD (Depressão Pós Disney) buscando meios de voltar. Eu comprava CDs com músicas da Disney – raríssimos por sinal – e assistia a tudo o que existia sobre o assunto, mas no fundo eu queria mesmo era estar lá… no meu coração, eu SABIA que estaria em breve.

Se você é Disney Alumni, vai me entender. Se você AINDA não é, saiba que torço pra que você viva essa experiência… sou veterana no assunto (estamos falando de um programa de 2003/2004), mas se precisar de dicas sobre como usar o que você vai aprender lá depois que o programa acabar, estou aqui e vou adorar conversar com você! O mercado de viagens a Orlando está cheio de oportunidades para Cast Members, deixe isso no seu radar. = )

Hoje, 20 anos depois dessa primeira experiência como #castmember, vim te contar como era trabalhar na Disney sem celular e sem internet. Mas antes de falar do ICP eu preciso te dar contexto…

Tudo começou quando, ao viajar pra Orlando pela primeira vez, eu ganhei de presente o livro Walt Disney – Prazer em Conhecê-lo, da Tia Ginha – ela foi uma figura muito importante para o nosso turismo, e muito especial pra mim… leia mais sobre ela aqui. Devorei o livro antes de embarcar, e claro, cheguei nos parques sabendo cada detalhe, o que fez tooooooda a diferença na viagem. Quando voltei, não só tinha amado viajar, como queria voltar pra lá o mais rápido que eu pudesse!

Mas como???

Eu tinha 16 anos, era estudante de colégio público, completamente dependente dos meus pais numa família em que eu tinha sido a primeira a sair do país. Sempre vivemos bem, mas explorar o mundo e fazer intercâmbio nunca foi uma realidade, até que eu, que já estava estudando inglês, descobri que dava pra trabalhar na Disney.

Minha professora de inglês (Thank you, Teacher Kelly!) tinha participado do primeiro programa na história da Disney a contratar brasileiros, e me incentivou a tentar. Busquei informações, mas naquela época a gente mal conseguia ter respostas nos sites de busca. Por sorte ela me indicou o STB, responsável pelo processo seletivo até hoje, e pude fazer minha inscrição depois de combinar o jogo com meu pai.

Eu não tinha como pagar aquela viagem… e não queria me frustrar passando numa seleção pra depois não embarcar. Me lembro como se fosse hoje: estávamos em casa e meu pai estava no quintal arrumando alguma coisa. Expliquei o que eu sabia sobre o programa, disse que queria muito ir mas que não faria o processo se ele não pudesse me patrocinar. Ele disse: então faça, e passe.

Primeira fase, análise de currículo: passei.

Segunda fase, palestra na Anhembi-Morumbi em São Paulo com entrevista em inglês no STB: passei.

Pausa pra falar dessa ida a São Paulo…

Eu sou de Londrina – PR e, até então, NUNCA tinha ido pra São Paulo, nunca tinha andado de metrô na vida! Me virava bem de ônibus na minha cidade, mas SP era outro mundo e o frio na barriga começou já saindo de casa. Cheguei na rodoviária da Barra Funda no dia seguinte, fui perguntando e consegui embarcar no metrô. Peguei o sentido errado algumas vezes, desci no lugar errado algumas vezes, mas cheguei… desbravei o metrô e cheguei. Me lembro de todo mundo com sapatos da 775 e mochilas da Company, isso aconteceu em agosto de 2003.

Naquela época, as posições disponíveis eram Food & Beverage, Custodial, Attractions e Characters, e os cast members dos programas anteriores estavam lá pra contar como era. Ouvi tudo, mas algo me despertou quando um rapaz que tinha sido custodial disse que essa era a posição que mais tinha contato com os visitantes. Era isso! Eu não me importava com a vassoura, com o lixo, com a limpeza do banheiro; eu queria poder falar com os guests (na Disney todos são convidados) e a tal liberdade do custodial me chamou a atenção… imagina se eu ia aguentar ficar parada no mesmo lugar todos os dias?!

Apliquei para custodial, única opção. Veio a terceira fase, entrevista com a Disney: passei.

Eu mal podia acreditar! Eu ia trabalhar na Disney. NA DISNEY!!!

Embarquei em novembro de 2003, cheguei na véspera do Thanksgiving e a primeira coisa que fiz quando liberaram minha ID (tínhamos um crachá da empresa que permitia acesso aos parques) foi entrar no Magic Kingdom. Foram 3 meses de inverno intenso, trabalho intenso e felicidade intensa.

Essa era minha costume (a fantasia, porque na Disney não usamos uniforme e sim fantasias): calça e blusa branca, casaco pesadão azul marinho e os acessórios neutros combinando que a própria Disney cedia – nas festas de Natal a gente ainda tinha o cachecol e o gorro temáticos, que eram uma gracinha!

Eu fui designada para o Magic Kingdom, mais especificamente na Main Street, e minha área cobria da entrada do parque até o castelo. Era um sonho! Eu podia ver as paradas e shows de fogos todos os dias, e conversava com os visitantes em seus momentos mais legais, quando entravam no parque emocionados e se davam conta de que estavam ali, realizando um sonho.

Como Custodial, meu trabalho era LIMPAR. Eu tinha basicamente 3 tipos de atividades: varrer e fazer as trash runs, ou seja, recolher e esvaziar as latas de lixo; limpar as mesas e tirar o lixo em restaurantes, e eu ficava muito no Casey’s Corner e no Plaza Ice Cream Parlor; e a pior de todas elas, os banheiros… tinha dia que eu ficava com 3 ou 4 banheiros dos bastidores, mas na maioria das vezes me colocavam no banheiro do City Hall, aquele logo na entrada ao lado do Guest Relations, que fica SEMPRE cheio e que é o maior do parque. Meu Deus, como era caótico!

Eu faria trash runs o dia inteiro felizona, mas sofria com esses banheiros… eles foram meu pior pesadelo nas noites de Natal e Ano Novo, não só pelo trabalho em si, mas também porque, quem originalmente cuidava deles durante o dia era uma senhora com 30 anos de casa e um método todo dela já estabelecido para garantir que tudo estivesse impecável. Era difícil acompanhar, especialmente com o parque fechado por te atingido a capacidade máxima, em torno de 75 mil visitantes.

Eu trabalhava nos turnos de closing, então entrava por volta de 16h e ficava até o parque fechar, chegando em casa por volta de 2h da manhã. A parte chata era ter que fazer a última limpeza, que nunca ficava 100% porque sempre tinha um visitante perdido entrando nos banheiros, usando as mesas ou jogando lixo depois que eu tinha terminado. Mas a parte boa… a parte boa fazia tudo valer a pena!

Eu tinha a Main Street só pra mim, por um bom tempo. Eu circulava por aquela rua vazia e tinha a vista exclusiva do Cinderella Castle – naquela época, depois de um certo tempo de parque fechado, a gente podia ver o “beijo de boa-noite” do castelo, que se despedia com uma música especial e ia diminuindo suas luzes bem devagar. Era um toque que, em teoria, só a gente que trabalhava lá podia ver, e era lindo.

Morei no Chatham, que já nem existe mais e deu lugar ao Flamingo Crossings, mas em 2019 tive a alegria de poder voltar pra visitar graças a Bia Blandy, que estava trabalhando no PG e morando lá. Foi emocionante poder passear por ali, caminhar até o prédio 1 e ver minha casinha na Disney. Muito tempo passou e ainda assim, parecia que nada tinha mudado.

Naquela época, o ônibus era da Dynamic e levava a gente pro trabalho e pro Walmart, só. Ah! Tinha uma linha pra Downtown Disney (como se chamava Disney Springs antes) e a gente conseguia ir caminhando até o Premium Outlets de Lake Buena Vista e para o Publix, bem do lado.

Não existia UBER, no máximo um Yellow Cab que a gente precisava ligar pra pedir. Internet era só no Club House, nos computadores enormes que ficavam lá à disposição pra gente usar o e-mail… eu não sabia o que era MSN, o Orkut estava nascendo e a febre tecnológica da época era ter a própria câmera fotográfica digital, que a gente plugava no computador pra baixar as fotos e postar no Fotolog.

A gente tinha um telefone fixo em casa e um livrinho com a lista dos ramais de todos os apartamentos do Chatham – se não me engano, também tínhamos as extensions do Vista e do Commons. Pra ligar pro Brasil precisávamos chamar pela Embratel no 1-800-344-1055 a cobrar, em horários combinados com a família porque a chamada ficava bem cara! Bons tempos, as coisas eram mais simples e a gente vivia mais presente no momento, sem aquela coisa de postar tudo e mostrar tudo em tempo real. Sei que as coisas mudaram, mas hoje vejo o quanto isso era legal!

Aliás, bons eram os pagamentos das semanas de Natal e Ano Novo, em que a gente se matava de trabalhar em turnos de 18 horas e ganhava o dobro. Eu trabalhei muito, muito mesmo! Meu tempo de lazer nesses dias era com os colegas nas Break Rooms, as salas onde a gente podia comer, descansar e fazer pequenos intervalos… sabia que existem várias delas espalhadas pelos túneis do Magic Kingdom?

E sabia que os túneis, na verdade, são o piso térreo do parque? E que dentro dele existem salas de treinamento, camarins, cafeterias exclusivas para os funcionários e um sistema de sucção do lixo com saídas estratégicas em diversas áreas do parque? Tanta coisa legal naqueles bastidores!

Voltei com os braços super fortes de tanto levantar latas de lixo. Foram 3 meses intensos com o privilégio de ter os parques como quintal de casa, e com a maravilha que era ter Pleasure Island de graça toda quinta – a Motion era nossa baladinha favorita e a gente se divertia aproveitando o complexo Disney com desconto especial.

Eu poderia ficar aqui contando milhares de outras coisas, mas vou fechar o post desejando que a Disney continue com esse programa, e que assim como eu, muitos outros jovens brasileiros possam viver a dádiva de trabalhar para o Mickey Mouse ao menos uma vez na vida. Nem tudo é lindo, o trabalho é pesado, tem dias que a gente esquece a magia em casa… mas é uma experiência que marca a gente pra sempre, e seguimos com nossas name tags tatuadas no coração.

Quer saber mais sobre o que aprendi trabalhando na Disney? Leia os outros posts também!

E como eu costumava dizer lá no ICP… Have a magical day. = )

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